tamo junto, Paul

13:13




  Sentada no meio fio gelado da praça Tiradentes, esperando meu merecido "dogão com duas vinas" ficar pronto na barraquinha em frente, eu ainda tremia. Não era o ar gelado de Curitiba ou a falta de um casaco quente que arrepiavam meu corpo inteiro, mas um senhorzinho de cabelos brancos, que do alto de seus 76 anos, me fez viver um dos melhores momentos da minha vida até hoje, durante pontuais três horas.
  Sir Paul McCartney, que de onde eu estava não tinha mais que cinco centímetros, e quando cantava parecia ter no mínimo dez metros de altura, me tirou do ar. O ex-beatle embalou as quarenta e duas mil pessoas que lotaram o estádio Couto Pereira com a maestria que só alguém que faz isso há mais 60 anos conseguiria. Me senti abraçada várias vezes, como se ele estivesse tocando algumas músicas somente para mim em determinados momentos, devido ao tom intimista que o show proporciona.
 Paul é muito mais que um músico com um vasto repertório e inúmeros talentos, trocando de instrumentos várias vezes ao longo da apresentação, ele é completo em todos os aspectos, se esforçou para interagir com o público em português, nos dizendo que "tamo junto" e pedindo para somente "os piás" cantarem o famoso "na na" de Hey Jude, e logo após, somente "as gurias" o fazerem, se emocionou com as milhares de luzes que se acenderam em sua performance de "Let it Be" e ainda falou sobre Direitos Humanos cantando "Blackbird", levando inúmeras pessoas às lágrimas em "Here Today", música escrita por ele para Lennon.
  Meu desejo é tatuar na memória cada pequeno momento desse show, que começou em Novembro de 2018, quando sem grandes pretensões três amigos prometeram entre si que se ele viesse ao Brasil, iriam. E lá fomos nós, comprando ingressos em Dezembro e controlando a ansiedade, para viver o ápice dessa trajetória exatamente as 21h30min do dia 30 de março de 2019, que tenho a impressão que levou uns dois anos para chegar.
  Ainda na fila, quando Paul passou acenando para a multidão que o aguardava no entorno do estádio, eu já sentia que todo o esforço havia sido recompensado. Meu coração transbordava gratidão e eu só conseguia lembrar de uma menina de 13 anos, que sonhava em um dia viver esse momento, que parecia tão longe da realidade da época, e que agora estava ali, paralisada enquanto a multidão à sua volta ia a loucura com "A Hard Day's Night".
  Depois de nos emocionar com "Golden Slumbers", Paul precisava "vazar", segundo suas próprias palavras. Em meio a lágrimas e um sorriso que rasgou meu rosto por três horas, eu gostaria de dizer apenas "muito obrigada", a sensação de viver algo pelo qual esperei dez anos para sentir é indescritível...e a única coisa que posso dizer é: até logo, Paul! Nós vamos nos ver novamente!


Jeniffer da Rosa, março de 2019.

0 comentários

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...