ciclo encerrado

04:01


  Ao fim de um longo e importante ciclo a sensação de missão cumprida traz ao coração, do tamanho de um amendoim ao partir, uma sensação de alívio. Sair, fechar a porta e olhar para o mundo que se abre sem saber muito bem para onde ir, é no mínimo estranho. Às vezes parece que um abismo está se abrindo e será preciso pular, sem paraquedas, para o desconhecido. Sem lugar para o medo, um sorriso de felicidade pura se abre, e a boca saliva: uma cerveja gelada para comemorar! Muita risada com quem chorou nos dias difíceis, abraços apertados naqueles que prometemos nunca perder contato e a certeza que muito mais que metas e números alcançados, são os relacionamentos conquistados que deixarão saudades.

  Encerrar um ciclo é sempre difícil porque, como bons seres humanos que somos, queremos conforto e vida boa. Ninguém quer pular do abismo desconhecido todos os dias, e os que querem, são chamados de loucos. Quando um ciclo se inicia, seja um curso, um trabalho ou um relacionamento, somos quadro em branco. Ao longo dos dias, sem nem ao menos nos darmos conta, pintamos cada pequeno espaço com experiências, lições, palavras, conversas sem sentido algum para preencher a tarde ou com sentido total, para aquecer o coração. É no fim, quando as peças parecem se encaixar, que entendemos aquilo que vivemos de verdade: o meio. É nesse ínterim que o quadro é pintado, os perrengues vividos e as pessoas, esses seres tão incríveis que cruzam o caminho, se mostram essenciais na caminhada. É no final que os dias estressantes se convertem em gargalhadas e os puxões de orelha em crescimento, mas é no meio que vivemos tudo isso. São nos dias atarefados, sem tempo de raciocinar direito, que o “ser adulto” faz sentido, e hard work também. É quando ouvimos aquilo que machuca, que resiliência se torna uma palavra bonita, e acho que por isso, tão tatuada por aí. Vivemos tão intensamente no meio, que só paramos para agradecer no final.

  No dia em que entrei em um pequeno centro comercial e subi as escadas do primeiro andar com a minha lista de “lugares onde quero trabalhar” em mãos, jamais poderia imaginar a aventura que estava por vir. Quantas vezes, ao longo dos anos, andei no corredor estreito e abafado, com seus ruídos de vida e cheiro de bolo fresco, olhando para rostos que se tornaram conhecidos no dia a dia, cumprimentando a todos e imaginando o que aconteceria depois dali, o que eu poderia fazer quando estivesse pronta para novos caminhos. Observava o fluxo do elevador, tentando criar destinos e histórias para as pessoas que via e hoje, nesse mesmo elevador, me despeço para criar meu próprio destino, sem certeza alguma do que acontecerá, mas com muita gratidão no coração por tudo que aconteceu.  

Jeniffer da Rosa, 25 de janeiro de 2019.

0 comentários

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...