Emaranhado

20:25



É madrugada e o silêncio é absoluto.
Não queria admitir, mas me sinto sufocada. Há algo querendo liberdade e me sinto incapaz por não saber o quê.
Quando foi que isso começou? Quando foi que eu comecei a ser menos minha e mais tua? Meus segredos estão tão emaranhados aos teus quanto nossas pernas sob o lençol. Meus olhos precisam mais dos seus do que meus pulmões precisam de ar, isso é assustador.
Faz-me estremecer, querido.
Deitado ao meu lado parece tão domável, tão inofensivo. Engana-se quem pensa ao contrário, afinal, mostraste teu lado domável, inofensivo e cheio de falhas a mim, confiaste esse teu lado tão frágil à minha pessoa, mostrando muito mais de ti do que jamais imaginei.
Olho para frente e sorrio. O armário antiquado voltado de frente para cama, lembra-te? Você quem confessou que queria um quarto à moda antiga, lembro do teu sorriso doce ante minha aceitação. Quem resistiria, no entanto?
As portas escancaradas e espelhadas espelhos que todavia foram desejos meus revelando o caos interno. Tua camisa com meu cheiro, tua gravata presa ao meu vestido, teus sapatos se confundem aos meus tênis (estes errôneos tênis que ainda revelam a menina dentro de mim).
Nossa vida anda tão unida quanto nossas roupas, me sinto feliz, já lhe disse. Mesmo que as lágrimas se rompam de meus olhos algumas vezes e que gritos saiam de meus lábios, me sinto feliz.
Prometi a ti, não foi? São fases, são novas cores sendo pintadas em minha parede, são novas ilustrações do teu rosto e desses teus olhos, novos ângulos, novas facetas que estudei com tanto esmero.
Sinta-te orgulhoso, meu rapaz, fizesse florescer em minha algo que nenhum outro conseguiu.
Não há maneira de fujir.
Ainda guardo tua inscrição de Chico Buarque (“Se nós nas travessuras das noites eternas, já confundimos tanto as nossas pernas. Diz com que pernas eu devo seguir.”) mostrando o quão sensível foi, ao notar-me com medo de prosseguir.
Sufoco esdrúxulo esse que sinto, não é? Sufoco de medo que nunca cessa, de saudades que nunca acaba e principalmente, meu amor (preste atenção), de feridas que tu não me causastes e que nunca sararam, mesmo sendo tu o anjo que é, entenda que existem certas cicatrizes que nunca secam e talvez eu seja mesmo alguém desse tipo.
Espero todos os dias, todos os segundos, todos os beijos e olhares que tu aceite esse coração marcado, essa alma falhada e que acima de tudo, meu querido, que tu me ame por inteira, ame meus defeitos e falhas assim como eu (absolutamente) amo os teus. Não tente me consertar a todo momento, vou me curando aos poucos, juro.
Basta que tu, nesta tua singularidade gritante aceite essa missão.
Porque em minha pluralidade sólida eu aceito cuidar de ti enquanto houver tempo ao meu corpo e eternidade à minha alma.
Enquanto houver voz a mim, juro lhe sussurrar ‘sim’ ao pé do ouvido; seja dia ou noite, quarta ou domingo, eu digo-lhe ‘sim’ de coração aberto e murros caídos.
Afinal, tu me tens desde que tenho um coração.
Sorria dormindo, isso mesmo meu rapaz, tenha bons sonhos.

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