do lado de fora
09:30
A primeira lembrança que tenho do dia em que saí da minha "zona de conforto" é do sol se abrindo a minha frente, emoldurando uma sequência de casinhas, construídas de um jeito mal acabado, parecendo se equilibraram umas nas outras para se manterem em pé. Lembro de sentir um calafrio, mesmo sob o sol, ao ver o mar de gente naquele lugar que nunca havia pisado antes, os joelhos tremendo e as mãos segurando as alças da mochila: "vamos lá", incentivei-me, e então, o primeiro passo foi dado.
A vida acontecia do lado de fora e eu mal podia acreditar. Paisagens desconhecidas, construções antigas maravilhosas, trânsito caótico e uma sinfonia de buzinas e pessoas falando em diferentes sotaques preenchiam minha cabeça. Descobrir gostos novos, sentir brisas diferentes, ter reações e visões que a rotina não permite, quão desafiador é processar tudo isso em segundos?
Nunca me senti tão viva como quando abdiquei do conforto e fiz o que realmente tinha vontade de fazer: sentir o coração pulsando, os pulmões se enchendo de ar desconhecido e os olhos sem saber onde mirar primeiro, tamanha novidade.
Quando voltei para casa o silêncio ensurdecedor de um lugar que sempre foi tão seguro me fez compreender: estar na zona de conforto não exige esforço, você não precisar olhar nem ouvir, sabe onde está tudo e o que virá a seguir.
Viver é justamente se desafiar, fugir desse círculo. Sentir tudo dentro de você vibrando sem saber o que acontecerá a seguir, qual será a próxima paisagem, a próxima história, a imprevisibilidade que faz cada simples cenário cotidiano, ser um espetáculo a parte.
Do lado de fora você irá entender porque dentro, tudo acontece em câmera lenta.
Jeniffer da Rosa - 22 de agosto de 2018.
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