catarina confusa

20:04




13 de julho, 5hrs da manhã aqui.
  O que fazer quando a vida não passa? Quando ler não basta, escrever não cura e ouvir não cala? O que fazer quando as palavras mais duras e afiadas teimam em escorrer por entre os lábios e fazem poças de mágoas por ai? Queria uma receita, um passo a passo ou um tutorial no Youtube, tanto faz, queria respostas. Meu mundo é movido por respostas de perguntas mudas que teimam em travar todos os meus músculos. 

  Não preciso de nada, mas preciso de tudo e é essa inquietude de ser que tanta me incomoda. Esse sentimento desnecessário que toma conta da maior porção de tudo é a doença da vez. Ouço Lenine rugir “Eu tô falando de amor, não da sua doença” e me contorço, me arrepio. Não quero falar de amor, cansei do amor e das suas paixões. Ser a pedra no sapato de quem só usa chinelos já não me convém, não dou mais nenhum passo por ninguém além de mim mesma, chamem-me de egoísta o quanto quiser e aproveitem o papo com a minha mão.

  Nunca li um livro de autoajuda, mas de vez em quando me dá uma vontade insana de ir até a barraquinha da esquina comprar “As Dez Lições Para a Vida Perfeita” como quem compra um Buda ou uma bola de cristal. Até vou na barraquinha da esquina, porém quando vejo qualquer jornal ou revista que seja, logo me esqueço o que é um livro de autoajuda. Nunca li um livro de autoajuda, não porque sou preconceituosa, mas porque acho esses autores uns metidos. Como assim você sabe as dez lições para a vida perfeita? Como você sabe que a sua vida é perfeita? Não entendo como alguém consegue fazer isso sem se questionar como é que sabe que a vida é perfeita, que os filhos são perfeitos, que o casamento é perfeito, que a grama do quintal é mais verde. Como assim? Com o que você se compara? Nossa mediocridade é tamanha em querermos ser perfeitos que estes tipos de livros só provam em um objeto real como somos realmente. Se um dia eu conseguir ler um livro de autoajuda sei que vou alcançar um novo patamar na minha vida, sei que serei mais completa e poderei então escrever uma crônica apenas sobre livros de autoajuda e a força que ele me deram, depois de ler o combo: vida perfeita, alcançar o primeiro milhão e o verdadeiro amor, sei que serei dona de uma multinacional com muitas atitudes ecologicamente corretas e com um marido apaixonado me esperando com o jantar pronto e a casa limpa.

  Enquanto não leio livros que prometem me ajudar deliberadamente, sigo com a angústia de alguém que na teoria não as deveria sentir. Minhas sessões psicológicas comigo mesma não me bastam mais, não sirvo para psicóloga, analista e seja mais quem for, sirvo apenas para ser o que sou: incompleta, indecisa, insólita e todos os outros ins que me couberem. Com a exceção da vez, não pense em infeliz. Não sou infeliz nem nunca serei porque para mim existe apenas felicidade como escolha. Ser infeliz é como não ser nada, por isso me recuso e revolto com este in.

  Felicidade é como a vida, uma linha segue paralela a outra, ambas cheias de curvas bruscas e alterações mediatas. Começam tão fortes e vibrantes que conseguem contagiar a todos a sua volta, mas ao longo dos anos, das decepções e frustrações a linha da felicidade vai seguindo reta e franca, quase invisível, de vez em quando tem lá seus picos, volta ao seu tom mais forte e logo fica normal, vulnerável e fugaz. Já a linha da vida, de vez em quando, foge e escorre de nossas mãos, aos sortudos ela segue até o fim, vezes forte, vezes fraca, vezes alta e forte, vezes tão baixa e fraca que é inacreditável como não some de vez, aos demais, ela é bruscamente tirada, não chega ao destino ao qual se esperava chegar e termina em meio a

Não lembro quem me ensinou essa da linha.
Estou em Amsterdam e não vou me matar, relaxa ai.
Catarina

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