manual do amor: minha confissão
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Pela primeira
vez na vida pensei em um título para o texto antes mesmo de cria-lo. Tudo isso
porque por um momento desejei que realmente existisse um “Manual do Amor”, com
quinze edições e vinte e três reimpressões. Mas infelizmente não existe. Não um
que funcione.
Desde muito
cedo aprendemos sobre o amor. Primeiro o da mamãe, que é o maior do mundo,
depois do papai, que é o mais inexplicável e então partimos para uma variedade
tão imensa de amores, que aos três anos já somos amantes. Amamos o Sansão,
cachorrinho da vizinha de cima, o vovô que mora longe e tem barba longa, a tia
que nos dá doces e assim vai, até que aprendemos sobre um novo amor que nos
deixa com uma sensação tão boa, que paralelamente já aprendemos o que é felicidade,
pois é, são os amigos. Algumas vezes temos a sorte de ter um amigo desses em
casa, com um nome parecido com o nosso e até umas semelhanças, são os amigos
eternos, mais chamados de irmãos.
Depois de
algum tempo descobrimos sobre um amor diferente. Um sentimento que dá mais
dores do que amores, que nos faz queimar mais neurônios que a escola em dez
anos, entretanto é tão, mais tão bom que você faz tudo novamente umas dez
vezes. Às vezes com dez pessoas diferentes, outras vezes com apenas uma. É o
amor chamado de paixão, segundo os cientistas dura três meses e como temos tendência
em acreditar neles...digo que não, vejo a paixão há quinze anos entre a Mari e
o Adri.
Sempre
idealizei meu amor, assisti tantos filmes de romance meloso que fiquei craque
em definir todas as qualidades que o amor da minha vida teria. Todas mesmo. Sei
que muitas meninas, assim como eu, aos doze se apaixonavam tantas vezes que
colecionavam nomes. Eu me apaixonava por personagens de livros, a amiga de
carteira por protagonistas de novelas e assim ia. Cada qual com seus namorados
imaginários, até que um dia desistíamos de encontrar esse tal do cara perfeito.
Talvez o príncipe do cavalo branco realmente não existisse, assim como o Pedro
falou daquela vez.
Quando menos
esperamos, sonhamos ou planejamos aparece alguém. Um sujeito que sempre esteve
ali, ou apareceu ontem, quem garante? Um alguém que faz uma explosão dentro de
você e o estrago nem lhe preocupa. Quase sempre não é o príncipe que o filme
lhe mostrou como perfeito, nem tem os detalhes que você sonhou, mas de alguma
forma inexplicável (acostume-se, muito do amor é inexplicável) é perfeitamente
adequado para você. De vez em quando ele pode até fazer uma coisa ou outra que
machuque seu coração, umas lágrimas irão rolar e com um pouquinho de diálogo
tudo volta ao seu normal. Talvez ele more do outro lado da rua e possa receber
um abraço e alguns beijos às três da tarde. Ou então more do outro lado do país
e tenha dia e horário marcado para receber seu amor. Mas o mais importante é
que receba. E que seja recíproco e motivo de felicidade intensa, porque tudo no
amor é intenso. Até a tristeza.
Encontrei meu
primeiro amor há alguns meses. Na verdade, anos, porque ele sempre esteve por
perto, sendo amado de mil maneiras. Não sou muito experiente com esse tipo de
amor justamente porque ele é o primeiro. Por isso gostaria muito desse tal de
manual, quem sabe eu o entenderia em sua totalidade? Descobriria muito do não
entendo nem com um milhão de explicações e nunca mais passaria uma noite em
branco pensando no que foi que aconteceu. Só que então não seria amor. Não
seria porque amar não é fácil. Nem amar um cachorrinho é fácil, quem dirá um
humano? Pior ainda: um homem. Ô ser difícil.
Deve ser isso:
Manual do Amor seria um livro falho mesmo com cem edições e oitenta e três
reimpressões porque nem o lendo cinco vezes e decorando seus sábios conselhos
eu entenderia um “ataque” de ciúmes em plena terça-feira de alguém tão calmo
quanto camomila ou então saberia o motivo de uma saudade insana se apoderar de
mim cinco minutos antes do horário combinado para vê-lo, não concordaria com o
motivo para discussões pelo tal do Zap Zap serem muito mais doloridas do que as
de carne e osso. Nem cinco manuais conseguiram me fazer entender porque todas
as lembranças que tenho nossas são tão intensas nem porque dormir de conchinha
às nove horas da noite é mil vezes melhor do que sair para o lugar mais
badalado do mundo.
Confesso:
manual nenhum explicaria o meu amor. Nem o seu nem o do Jude, meu gato. Não
explicaria porque o amor não é explicável, porque quando amamos dizer “eu te
amo” é como dizer bom dia, mas é sempre tão sincero quanto aquele primeiro, que
levou meses para sair e quando saiu, foi um meio que e-ee te mo. Amar, seja a
mãe ou o futuro marido, é o faz da vida válida, nascemos e morremos amando e
amamos mais ainda o intervalo que nos resta entre os dois.
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