99 dias com ela
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Hoje fazem
exatos noventa e nove dias que moro sozinha. Pensei em dizer: “que sou
oficialmente adulta”, porém a quantidade de objetos “fofos” que decoram minha
mini casa me trairiam. Moro sozinha, em um bairro estranho, rodeada de pessoas
estranhas e com todas as contas saindo em meu próprio nome e nem assim me sinto
oficialmente adulta. Sigo me sentindo apenas eu, tenho um tipo de aversão a
essa palavra, adulta. É pesada e
sempre me faz pensar naqueles seres humanos que só trabalham e nunca tem tempo
para pensar ou se divertir.
Durante um
ano inteiro planejei e sonhei com todas as possibilidades de viver em minha
própria companhia. Entrei em tantas lojas de móveis tantas vezes, que hoje se
vejo uma, atravesso a rua no mesmo instante. Orcei as mais variadas coisas,
queria economizar cada centavo e fazer com que tudo fosse perfeito. Meu objetivo era simples: morar sozinha.
Meu lado
planejador se aflorou se tal maneira, que comecei a perceber que não era tão
simples assim. Morar sozinha, ponto. Mas e a pia, o fogão e a geladeira? Eles
vem de brinde? Foi quando comecei a fazer um milhão de planilhas, não no Excel,
é claro. Planejei cada detalhe para que tivesse o menor risco possível de dar
errado.
Levei comigo
durante todos os dias aquele velho dito popular: “No final, tudo dá certo.” E
então quando tudo começou a dar errado, trovejei e bati o pé até entender que
sim, no final tudo dá certo, mas é no meio que as coisas acontecem. É durante
que você sente uma imensa vontade de desistir, é nesse ínterim que você quer
morrer com os absurdos encontrados no mercado, é nesse período, quando cada
mínimo detalhe planejado começa a dar errado que você entende qual é a graça da
vida.
Adianta viver
se você souber que tudo sempre vai dar certo? Se der certo no final, é
felicidade plena, mas se durante aparecer um obstáculo e outro, tudo bem.
Aprendi muito nesse tempo, e ainda estou aprendendo a controlar a ansiedade e
decepção, por exemplo. Minha vida não é uma planilha para que tudo ocorra no
tempo em que planejei. Se deu certo, ótimo, vamos continuar. Se não deu,
choraminga um pouquinho e depois volta com força dobrada, agora precisa dar.
Uma vez li um
texto, não lembro o autor infelizmente, que dizia que quando aconselhamos
alguém, estamos na verdade nos aconselhando. Acredito que esse texto seja um
conselho para mim mesma, uma pessoa que sonha por vezes demais e planeja
momentos que não necessitam de planejamento. Morar sozinha tem sido a maior e
melhor experiência da minha vida, perceber que centenas de coisas dependem de
mim para acontecer e que, na maioria das vezes, não saem como planejei, tem me
ensinado a ficar mais calma quando tudo parece errado, quando o bolo desanda ou
o suco fica aguado, calma. A vida é para ser vivida aos poucos, um passo a cada
dia, um suspiro a cada encanto.
13.04.2015
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